24 dezembro 2021

NATAL - Cheiro de Presépio

    

    Dias atrás cheirei o Natal. Tinha o aroma perfumado de pinheirinho verdadeiro, barba de pau, areia, musgo, pedrinhas do rio… Foi dentro de uma igreja antiga de estilo tradicional. Aquele presépio aromático se transformou num frasco de perfume. E engrenou a minha memória às lembranças de um Natal ainda livre do gosto artificial de plástico.

    Qual foi o cheiro do primeiro Natal? Não foi o aroma de peru assado, nem de presentes espalhados na casa decorada. Foi de esterco e de urina da vaca. Foi de baba do boi, impregnado na cocheira de uma estrebaria mofa e úmida. Foi de suor. Daquele odor natural após uma longa viagem no lombo de um burro, saindo de um José e de uma Maria sem banho tomado porque não encontraram hospedagem. Incrivelmente, o Natal começou com um cheiro desagradável.

    Mas ele foi logo transformado. O presente dos reis magos – ouro que garantiu uma nova e descente moradia, mirra de perfume valioso, e incenso com fragrância suave – aromatizou o presépio. E foram estes homens do Oriente o próprio perfume. Coisa que ainda acontece. Ou como diz o texto sagrado: Como um perfume que se espalha por todos os lugares, somos usados por Deus para que Cristo seja conhecido por todas pessoas. Porque somos como o cheiro suave do sacrifício que Cristo oferece a Deus (2 Coríntios 2.14,15).

    O Natal, porém, dependendo do nariz, continua com aquele ar fétido de estrebaria. Isto porque, conforme o texto bíblico citado, para os que estão se perdendo, é um mau cheiro que mata; mas, para os que estão sendo salvos, é um perfume muito agradável que dá vida (2 Coríntios 2.16). Não foi por nada que Simeão, ao acariciar o nenê Jesus no colo e sentir o cheirinho de criança recém-nascida, profetizou: Este menino foi escolhido por Deus tanto para a destruição como para a salvação de muita gente em Israel (Lucas 2.34).

    Qual é a fragrância do Natal no meu nariz? De vida ou de morte? De salvação ou de condenação? Natal tem disto! É a chegada daquele que não foi recebido pelo próprio povo (João 1.11). É a vinda do Deus de carne no meio dos deuses de prata e de ouro feitos por mãos humanas, ídolos que têm nariz mas não cheiram (Salmo 115.4,6). Natal exala violência promovida por Herodes – gás mortal para as crianças de Belém (Mateus 2.16). Um olfato diabólico que fareja pelo caminho do Calvário e encontra o Deus-morto e o odor de cuspe e de feridas.

    Mas graças aos céus, Natal também tem o aroma de perfumes que não foram usados no corpo de Jesus. – Por que é que vocês estão procurando entre os mortos quem está vivo? (Lucas 24.5) Os mesmos que anunciaram aos pastores o nascimento do Salvador agora anunciavam a sua ressurreição. E na promessa de trazer uma fragrância nova e duradoura, o nascido em Belém manda escrever: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para anunciar essas coisas a vocês nas igrejas. Eu sou o famoso descendente do rei Davi. Sou a brilhante estrela da manhã… Certamente venho logo. (Apocalipse 22.16,20).

    O presépio do Natal exala tudo isto! É só cheirar! E conforme o olfato, nem será um cheiro, mas um sopro. O mesmo daquele quando o Senhor soprou no nariz do homem um fôlego de vida (Gênesis 2.7).

Pastor Marcos Schmidt – Igreja Luterana – Novo Hamburgo - RS



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